Percebe o que te prende e impede de avançar
Depois da coragem se ter revelado e ter entregue a minha carta de demissão senti um alívio gigante. Parecia que me tinham tirado um peso de cima e que conseguia caminhar mais leve. Mais livre.
Os efeitos de LARGAR AQUELA FRUSTRAÇÃO começaram a notar-se cada vez mais no meu dia. Brincava mais com as pessoas, sorria mais para os outros e encontrava soluções mais rápidas para os problemas que me apareciam. Sentia-me cada vez mais preparado para largar uma profissão de sucesso que abracei durante 10 anos seguidos e dar corpo às minhas novas ideias através do caminho do empreendedorismo.
Mas seguramente não estava preparado para o enorme desafio que a vida estava prestes a lançar-me… Aquela noite ficou gravada para sempre dentro de mim.
Após ter terminado de jantar com a minha companheira e com a nossa filha mais velha, recordo-me de observar a forma ternurenta como ela dava colo à nossa bebé.
Com todo o cuidado que uma bebé de 1 mês e meio merece, deitou-a ao comprido nos seus braços de barriga voltada para cima, enquanto permanecia sentada no banco de madeira ao lado da mesa quadrada de vidro fosco, quando num relance, a luz branca projetada pela lâmpada fluorescente da cozinha, revelou uma ténue opacidade num dos olhos da bebé.
De repente a sua expressão mudou, a respiração alterou-se e as suas lágrimas de mãe começaram a cair. Lembro-me como se fosse hoje…
Após uma visita urgente ao pediatra, seguida de testes oculares, o problema confirmou-se: a minha bebé tinha nascido com uma catarata congénita e não via de uma vista.
Dois meses depois da minha 2ª filha ter nascido e um mês antes de sair em definitivo da empresa, encontrava-me na sala de espera do bloco operatório do hospital, pronto a deitar aquele pequeno ser numa enorme maca metalizada forrada com um lençol branco e entregá-la à equipa de cirurgiões cuja missão era tentar recuperar uma pequena percentagem da sua visão. Tão pequena, que, tal como nos explicaram, a esperança prevista da percentagem recuperada era de apenas 7%.
No pós-operatório as noites foram dormidas no hospital e a recuperação foi lenta. E de repente tudo mudou.
Os ritmos todos se alteraram.
As noites tranquilas deram lugar a noites acordadas.
Os risos deram lugar a choros.
A serenidade deu lugar ao estado de alerta.
A confiança deu lugar à incerteza.
O entusiasmo deu lugar à dúvida.
E eu dei a mão a elas. Não sabia como, não sabia onde e não sabia quando, mas se nos mantivéssemos unidos haveríamos de conseguir ultrapassar aquela situação que a vida nos trouxe.
E não foi a única situação trazida pela vida…
Como empreendedor, eu queria fazer vingar as minhas ideias, fazendo a diferença e criando impacto positivo na vida das pessoas. Para isso contava com sonhos ambiciosos, com um plano delineado, estratégias audazes, uma forte vontade em construir uma equipa e um Propósito sólido que colava todas as restantes peças. Pensava eu…
Em Junho de 2008, com a minha bebé de 9 meses nos braços e enquanto esperava no banco do hospital pela consulta semanal de análise ocular, as lágrimas corriam-me pelo rosto, e perguntei-me:
Como é que isto aconteceu?
Como é que cheguei até aqui?
Como é que fali em 6 meses, duas das três empresas que criei?
Como é que perdi todas as minhas poupanças?
Como é que vou pagar as minhas contas?
E culpei…
Culpei os médicos por a operação ao olho da minha bebé não ter resultado.
Culpei a minha família porque não me apoiou.
Culpei os meus amigos porque muitos deles desapareceram.
Culpei o meu sócio e os meus novos colegas por não me terem dado a mão.
Culpei a crise por ter perdido tudo.
Quando sentimos dor, a culpa bate-nos à porta e facilmente a deixamos entrar. E rapidamente podemos pegar no dedo que está apontado aos outros e virá-lo para nós. E foi isso que fiz.
Culpei-me por não ter conseguido ter sucesso. Culpei-me por não ter conseguido encontrar soluções. Culpei-me por ter desiludido a minha companheira e por a ter colocado a ela e às minhas filhas numa situação de desespero.
Quando sentimos uma dor tão dilacerante que nos separa por dentro, buscamos culpados fora de nós para aquilo que nos está a acontecer, e culpamos os outros. O pai, a mãe, a família, o chefe, o médico, o condutor do carro da frente, e podemos não ficar por aqui…
Podemos encontrar a culpa também em algum evento que nos aconteceu, como uma crise, um acidente, um casamento, um divórcio, uma traição, ou por fim…
Por fim culpamo-nos. A nós. Porque não conseguimos, porque desiludimos, porque fraquejámos, porque nos encolhemos, porque nos escondemos…
A culpa impede-nos de ver a nossa luz, porque nos empurra para uma escuridão. Infinita.
Mas podemos curá-la. Podemos transformar a dor da culpa em algo maior. Algo benéfico. Algo que nos ajude a encarar o dia de amanhã com esperança. Foi isso que o Hélder fez. De forma corajosa. De forma verdadeira.
Esta é a sua história.
A CULPA é a 2ª das 3 coisas que precisamos de largar para avançarmos no nosso caminho.
A culpa faz-nos paralisar, isola-nos dos outros, faz-nos sentir sozinhos, pequenos e insuficientes.
Espero ter-te ajudado a perceber como é importante e urgente LARGAR A CULPA, mas, tal como ontem, quero colocar-te estas duas perguntas que te vão ajudar no teu caminho:
1 – Quando é que sentes culpa?
2 – E se não sentisses essa culpa, sentias o quê?
Parabéns por teres chegado até aqui. E amanhã…
Amanhã vai ser revelador. Amanhã vais descobrir a 3ª e ÚLTIMA COISA que precisas de largar para avançares no teu caminho.
Um abraço inspirador.
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