“Durante a corrida senti muitas pedras no sapato, eu tirava e elas entravam outra vez.. até que fiz bolhas e já não sabia distinguir o que era meu o que era da natureza, nem quantas mais pedras precisava de tirar dos ténis ou quantas eram parte integrante de mim; bolhas. Comecei a pensar que poderia servir de metáfora para a minha vida e foi ai que comecei a “alucinar”.
Senti-me abundantemente grata por ter o Mário a puxar por mim, a acreditar mais em mim que eu própria, a ajudar-me a focar no bom, no positivo, na meta e nas pequenas e grandes submetas que íamos traçando pelo caminho; a torre, os postos de controlo e por vezes mesmo o próximo km, o fim da subida ou o próximo passo.
Na Torre, depois de 32 sinuosos e longos quilómetros, quase sempre a subir, no posto de controlo, um médico disse que os meus pés não estavam bons para fazer o resto da corrida… WHAT? Ainda vacilei, mas depois escolhi não o ouvir. Tive momentos muito desafiantes a descer, porque descer também pode ser tão ou mais difícil que subir. Segundo o que me disseram; “bati no muro”. Mas continuei e lembrei-me mais uma vez “uma, outra, uma, outra” e lá ordenei as minhas pernas para continuar; senti mesmo que juntos somos mais fortes, o Mário angariou um novo colega que pensou desistir na torre, mas aceitou vir connosco e ainda puxou por nós mais à frente! O Luís foi contagiado de inspiração e depois inspirou também, tal como o vassoura Ivan que nos apanhou e ajudou a superar os últimos kms, só não me levou ao colo, como pedi sem sorte!!
Acredito que no trail, numa situação extrema de cansaço, frio, calor, dor, desconforto, consegui sentir uma ainda maior alegria, inspiração, gratidão, tremenda superação e vivi na prática, experiencialmente a questão de que eu consigo muito mais do que imaginei inicialmente.
O meu corpo é comandado pela minha mente e eu ordeno à minha mente que quero, posso e vou percorrer 62km num dia, na imponente serra da estrela e vou chegar ao fim daquilo que é talvez 3x a distância máxima que tinha corrido num dia!
No final celebrei e senti-me grata pela prova de confiança que dei a mim mesma. Nunca imaginei conseguir fazer 62km, hoje acredito que sou capaz de muito mais, por isso mesmo já estou inscrita no próximo!” Mariana Monteiro